27 de abril de 2011

LIÇÃO DE FUKUSHIMA - quando será aqui?

Um exemplo a ser seguido!

(Caro amigo de sempre, dr. Thomas, eu lhe agradeço por me enviar esse magnífico texto, que é um exemplo de gente miito forte! Meu abraço, Daidy)

A carta a seguir foi escrita por Ha Minh Thanh, um imigrante
vietnamita que é policial em Fukushima no Japão, a seu irmão, mas
acabou chegando a um jornal em Shangai que a traduziu e publicou.

Querido irmão,

Como estão você e sua família? Estes últimos dias tem sido um
verdadeiro caos. Quando fecho meus olhos, vejo cadáveres e quando os
abro, também vejo cadáveres. Cada um de nós está trabalhando umas
20 horas por dia e mesmo assim, gostaria que houvesse 48 horas no dia
para poder continuar ajudar e resgatar as pessoas.


_Estamos sem ág ua, eletricidade e as porções de comida estão
quase a zero. Mal conseguimos mudar os refugiados e logo há ordens
para mudá-los para outros lugares. _
_Atualmente estou em Fukushima – a uns 25 quilômetros da usina
nuclear. Tenho tanto a contar que se fosse relatar tudo, essa carta se
tornaria um verdadeiro romance sobre relações humanas e
comportamentos durante tempos de crise. _

_As pessoas aqui permanecem calmas – seu senso de dignidade e
comportamento são muito bons – assim, as coisas não são tão
ruins como poderiam. Entretanto, mais uma semana, não posso garantir
que as coisas acabem chegando a um ponto onde não poderemos dar
proteção e manter a ordem de forma apropriada.
_

_Afinal de contas, eles são humanos e quando a fome, a sede se
sobrepõem à dignidade, farão o que tiver que ser feito para
conseguir comida e água. O governo está tentando fornecer
suprimentos pelo ar enviando comida e medicamentos, mas é como jogar
um pouco de sal no oceano. _

___IRMãO QUERIDO, HOUVE UM INCIDENTE REALMENTE TOCANTE QUE ENVOLVEU
UM GAROTINHO JAPONêS QUE ENSINOU A UM ADULTO COMO EU, UMA LIçãO DE
COMO SE COMPORTAR COMO UM VERDADEIRO SER HUMANO.
_
___ONTEM à NOITE FUI ENVIADO PARA UMA ESCOLA INFANTIL PARA AJUDAR
UMA ORGANIZAçãO DE CARIDADE A DISTRIBUIR COMIDA AOS REFUGIADOS. ERA
UMA FILA MUITO LONGA E NOTEI, NO FINAL DELA, UM GAROTINHO DE UNS 9
ANOS QUE USAVA UMA CAMISETA E UM SHORT._

Estava ficando muito frio e fiquei preocupado se, ao chegar sua vez,
poderia não haver mais comida. Fui falar com ele. Ele contou que
estava na escola quando o terremoto ocorreu. Seu pai, que trabalhava
perto, estava se dirigindo para a escola para apanhá-lo e ele, que
estava no terraço do terceiro andar, viu quando a onda tsunami levou
o carro com seu pai dentro.
Perguntei sobre sua mãe e ele disse que sua casa era bem perto da
praia e que sua mãe e sua irmãzinha provavelmente não sobreviveram.
Notei que virou a cabeça para limpar uma lágrima quando perguntei
sobre sua família.

_O GAROTO ESTAVA TREMENDO. TIREI MINHA JAQUETA DE POLICIAL E
COLOQUEI SOBRE ELE. FOI AI QUE A MINHA BOLSA DE BENTô (COMIDA) CAIU.
PEGUEI-A E DEI-A A ELE DIZENDO: “QUANDO CHEGAR A SUA VEZ A COMIDA
PODE TER ACABADO. ASSIM, AQUI ESTá A MINHA PORçãO. EU Já COMI. POR
QUE VOCê NãO COME”? _

_ELE PEGOU A MINHA COMIDA E FEZ UMA REVERêNCIA. PENSEI QUE ELE
IRIA COMER IMEDIATAMENTE, MAS ELE NãO O FEZ. PEGOU A COMIDA, FOI ATé
O INíCIO DA FILA E COLOCOU-A ONDE TODAS AS OUTRAS COMIDAS ESTAVAM
ESPERANDO PARA SEREM DISTRIBUíDAS.
_
_FIQUEI CHOCADO. PERGUNTEI-LHE POR QUE ELE NãO HAVIA COMIDO AO
INVéS DE COLOCAR A COMIDA NA PILHA DE COMIDA P ARA DISTRIBUIçãO. ELE
RESPONDEU: “PORQUE VEJO PESSOAS COM MAIS FOME QUE EU. SE EU COLOCAR
A COMIDA Lá, ELES IRãO DISTRIBUí-LA MAIS IGUALMENTE”.__
_
_Quando ouvi aquilo, virei-me para que as pessoas não me vissem
chorar. __Uma sociedade que pode produzir uma pessoa de 9 anos que
compreende o conceito de sacrifício para o bem maior, deve ser uma
grande sociedade, um grande povo. _

Bem, envie minhas saudações à sua família. Tenho que ir, meu
plantão já começou.
_Ha Minh Thanh___
-------------------------





Nenhum comentário:

Seguidores

Quem sou eu

Minha foto
São Carlos, São Paulo, Brazil
Daidy Peterlevitz é aposentada, com qualificação para lecionar desde a pré-escola ao Colegial (Matemática e Física).Tem trabalhos publicados na Antologia “A Pena e a Lua”, da APEBS - Associação dos poetas e escritores da Baixada Santista.É autora dos livros As Duas Faces da Mesma Moeda e Quatro Bruxas no Elevador, lançado na Bienal do Livro, em S.Paulo. É autora do projeto DEMBLI, que facilita a circulação de livros, em escolas sem bibliotecárias. Trabalha em seu projeto no qual afirma que o bebê pode e deve aprender a ler. Também fez parte do antigo "SEROP" que funcionava no G.E Oswaldo Cruz, em São Paulo, sob a direção do sr.Jocelyn Pontes Gestal. Era orientadora de Ciências. O grupo, estudava a filosofia e a pedagogia de mestres, preparava apostilas, ia à inúmeras escolas, em S.Paulo e arredores, levando orientação diretamente aos professores ou,se distante como Sta. Izabel, aos diretores, que as passavam aos professores. Atualmente, escreve para seis jornais e, a todos agradece pelo espaço cedido.

Arquivo do blog