Quero agradecer á querida amiga, Rosa Maria Farani Magaldi Ribeiro de Mendonça (ufa!), pelo envio deste significativo texto.
Isto é Roberto Requião
Odeio Prepotência
Paloma, filha de Jorge Amado*
Era 1998, estávamos em Paris, papai já bem doente participara da Feira do Livro de Paris e recebera o doutoramento na Sorbonne, o que o deixou muito feliz. De repente, uma imensa crise de saude se abateu sobre ele, foram muitas noites sem dormir, só mamãe e eu com ele. Uma pequena melhora e fomos tomar o aviao da Varig (que saudades) para Salvador. Mamãe juntou tudo que mais gostavam no apartamento onde não mais voltaria e colocou em malas.
No aeroporto de Paris, empurrando a cadeira de rodas de papai, ela o levou para uma sala reservada. E eu, com dois carrinhos, somando mais 10 malas, entrava na fila da primeira classe. Em seguida chegou um casal, que eu logo reconheci: era um politico do Sul (nao lembro se na época era senador ou go vernador - já foi tantas vezes os dois, que fica dificil lembrar)..
A mulher parecia uma arvore de Natal, cheia de saltos, cordões de ouros e berloques (Calá, com sua graça, diria: o jegue da festa do Bonfim). É claro que eu estava de jeans e tênis, absolutamente exausta.
De repente, essa senhora bate no meu ombro e diz: "Moça, esta fila é da primeira classe, a de turistas é aquela lá no fundo". Me armei de paciência e respondi: "Sim, senhora, eu sei". Queria ter dito que eu pagara minha passagem, enquanto a dela, o povo pagara, mas nao disse. Ficou por isso.
De repente, aquele senhor disse à mulher, bem alto para que eu escutasse: "Até parece que vai de mudança, como os retirantes nordestinos".
Eu só sorri. Terminei o check-in e fui encontrar meus pais. Pouco depois bateram à porta da Sala: era o casal querendo cumprimentar o escritor Jorge Amado (meu pai). Não o mandei pra putaquepariu, apesar de desejar fazê-lo, e educadamente disse não.
Hoje, quando vi na tv esse Senador dizendo que foi agredido por um repórter, por isso tomou seu gravador, apagou seu chip, etecetera e tal, fiquei muito arrretada, me deu uma crise de mariasampaismo e resolvi contar este triste episódio pelo qual passei, há 13 anos. Só eu e o gerente da Varig fomos testemunhas deste episódio, meus pais nunca souberam de nada…
* Paloma Am ado é psicóloga.
Define a sua preferência política desta forma. “Sou livre pensadora. Odeio tudo que é contra o povo, reacionário, retrógrado, preconceituoso.
Se tivesse que escolher uma ala, escolheria a das Baianas.
Historietas de fantasmas - O desafio
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