4 de julho de 2010

Texto de Jorge Linhaça
Cansei gente!
Agora vou meter a boca no trombone.Já que quase ninguém fala, vou eu falar.
Sou brasileiro, tão brasileiro quanto os negros e homossexuais deste país, só que um pouco mais azarado...
Nasci loiro, olhos claros, heterossexual, luso-descendente e atualmente estou acima do peso ideal...como assim não está entendendo?
OK...vou desenhar o quadro...
Hoje vemos pipocar por todo lado ONG's e movimentos defendendo os direitos das "minorias" levantando bandeiras contra a "segregação" racial ou de opção sexual dos indivíduos.
Vivemos em um país onde a maior característica é a miscigenação e a liberdade de cada um ser como quiser ser.
Acho isso ótimo, respeito os movimentos sérios em busca da igualdade de direitos e oportunidades. Acho a discriminação uma saco, só que algumas coisas parecem até piada.
Se alguém , no meio de uma discussão chamar alguém de " negro safado" está sujeito a ser taxado de racista, como se o referir-se a um indivíduo qualquer englobasse uma ofensa a toda uma comunidade ou raça.
Ah! Mas se no meio da mesma discussão alguém me chamar de loiro aguado, português burro ou rolha de poço não é crime...
Imaginem só eu me dirigindo a uma delegacia e registrando um boletim de ocorrência por racismo porque falaram de minha ascendência ou aparência física, viraria alvo de chacota e talvez fosse até indiciado por desacato à autoridade se insistisse nesse direito.
O mesmo ocorreria se chamasse algum homossexual de biba, bicha, sapatão ou "viado"...no entanto eles poderiam chamar-me tranquilamente de ogro, bofe ou homofóbico sem nenhum problema...
O que existe é uma grande confusão entre o "politicamente correto" e os reais direitos individuais.
Estamos à beira de uma discriminação às avessas.
Hoje se alguém conta piadas sobre negros ou homossexuais é encarado como uma pessoa preconceituosa ( o que pode ser verdade ), no entanto se conta piadas sobre português ou loiras burras está tudo certo, ninguém pode sentir-se ofendido e lutar pelos seus direitos já que não existem movimentos nem ONG's
mandando projetos de lei ao congresso nacional sobre o assunto.
Cresci ouvindo piadinhas como " alemão batata come queijo com barata"; " tinha de ser português"etc...
No sul do país, especificamente no Paraná, pobres dos descendentes de poloneses ou dos que tem características físicas semelhantes...são logo taxados pejorativamente de "polacos" e burros.
Em outras regiões, qualquer loiro é logo chamado de "galego"
e por aí vai...
Nada contra os polacos, alemães ou galegos, pelo contrário, mas quando esses substantivos são usados como forma de apelido ou adjetivados, não há diferença quanto aos "negrão" "neguinho" ou "negro". Embora estes últimos sejam vistos como preconceituosos.
As mulheres loiras, em nosso país são logo associadas à futilidade e à falta de inteligência...
Se fosse relacionar aqui todos os estigmas raciais ou sociais que existem neste país esta crônica teria laudas e mais laudas, acabaria por ser uma dissertação de mestrado ou coisa parecida.
No nordeste os sulistas ( leia-se habitantes das regiões sul e sudeste ) são encarados por muitos como arrogantes e preconceituosos.
Baianos são encarados como preguiçosos e indolentes, graças, em grande parte a Dorival Caimy que era adepto do ócio criativo.
Em São Paulo, por exemplo, "baiano" é genérico de nordestino, assim como no Rio usa-se o "paraíba"
Já imaginaram se fossem criadas ONG's e Movimentos para tudo que é "discriminação" neste país ? Pobre poder judiciário que não dá conta nem dos processos que já existem.
Loiro, olhos claros, luso-descente, barrigudo e...POETA...
Minha nossa! Esse último então é de matar...
O que você faz ?
Sou poeta e escritor...
Tá, legal!...e trabalha no quê?
Em outras palavras...poeta e escritor é sinônimo de vagabundo.
É preciso ter e exercer outra profissão para não ser olhado com desdém.
Como se escrever não fosse também um trabalho, como se os textos aparecessem sozinhos nas folhas de papel ou telas do computador.
(Claro que os escritores conhecidos e divulgados na grande mídia não passam por esse constrangimento.)
Ninguém considera João Ubaldo, Paulo Coelho, Saramago, Raquel de Queirós, Ziraldo, Maria Clara Machado e etc vagabundos por de dedicarem à escrita.
Estou até pensando em criar algumas ONG's:
MVL- Movimento de Valorização da Loirice
ACDG- Associação Contra a Discriminação aos Gordinhos
PSNPBNQL- Português Só Nasce em Portugal, Burro Nasce em Qualquer Lugar
ADDO- Associação de Defesa dos Direitos dos Ogros
OPRD- Organização Polaca de Repúdio à Discriminação
BTT- Baiano Também Trabalha
GTM- Gaúcho Também é Macho
MPETG - Movimento "Poeta e Escritor Também são Gente"
Cada uma delas com estatutos próprios e projetos de lei contra a discriminação...Nosso Congresso Nacional iria adorar...já que gastar horas, meses e anos no debate de tais projetos serviriam de desculpa para não votar coisas mais importantes como a reforma política, a reforma fiscal, a reforma eleitoral etc.
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Arandu, 04/07/2010

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São Carlos, São Paulo, Brazil
Daidy Peterlevitz é aposentada, com qualificação para lecionar desde a pré-escola ao Colegial (Matemática e Física).Tem trabalhos publicados na Antologia “A Pena e a Lua”, da APEBS - Associação dos poetas e escritores da Baixada Santista.É autora dos livros As Duas Faces da Mesma Moeda e Quatro Bruxas no Elevador, lançado na Bienal do Livro, em S.Paulo. É autora do projeto DEMBLI, que facilita a circulação de livros, em escolas sem bibliotecárias. Trabalha em seu projeto no qual afirma que o bebê pode e deve aprender a ler. Também fez parte do antigo "SEROP" que funcionava no G.E Oswaldo Cruz, em São Paulo, sob a direção do sr.Jocelyn Pontes Gestal. Era orientadora de Ciências. O grupo, estudava a filosofia e a pedagogia de mestres, preparava apostilas, ia à inúmeras escolas, em S.Paulo e arredores, levando orientação diretamente aos professores ou,se distante como Sta. Izabel, aos diretores, que as passavam aos professores. Atualmente, escreve para seis jornais e, a todos agradece pelo espaço cedido.

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