25 de agosto de 2010

Aventuras de um insólito viajante monoglota.

(Crônica de Agnaldo "Billy" Vergara publicada no Blog Agora Jazemos em Paz

De todos meus sonhos um era o maior e eu jurei não morrer sem antes realizá-lo mesmo se fosse preciso morrer para isso, o sonho de visitar a terra dos meus antepassados a Europa.
Não a Europa inteira, mas os países latinos, quer dizer menos a França, ouvi dizer que os franceses são arrogantes, e também tem as três copas que eles tiraram de nós... Deixa prá lá.
Inesperadamente apareceu a chance de realizar meu sonho dourado. Me enchi de esperanças e me preparei para mais esta viagem.
Devo confessar que nunca aprendi direito os idiomas de meus parentes (bisavós, a maioria deles) um dos motivos é que eles morreram quando eu ainda era jovem e tem outro eles já não falavam quase os idiomas natais.
Mas prá quem fala o português falar outra língua neo-latina é fácil, aqui no Brasil a gente fala um idioma que é Tupiafroluso-brasileiro, e depois ainda temos a bagagem linguística que vem da televisão, com as novelas e locutores de futebol, eu pensei comigo: - Vai ser fácil.
Embarco no vôo direto São Paulo – Milão, no começo vi que não daria certo minha tática de usar nem meu inglês “macarrônico” muito menos todas as expressões que o Benedito Rui Barbosa pôs em suas novelas. Não tive outra alternativa senão usar a linguagem universal a mímica.
Peguei um táxi no aeroporto que me levou até o rio Pó, nota: é na Itália que fica o pó mais úmido do mundo (brincadeirinha). Desci do táxi e o motorista aproveitou e se mandou, devia estar cansado de tentar decifrar meus gestos. Na margem eu encontrei um pintor com um cavalete e um banquinho (coisa normal na Europa).
Me aproximei da criatura e dei um sorriso amigável, ele acenou, tudo bem eu pensei. Logo ele falou para mim: - “Che bella scena.”
- Belissíma! Respondi.
E ele continuou pintando e falou: - “Guardate questo fiume!”
Eu respondi: Eu não usava filme. Minha máquina era digital. E mostrei o meu celular moderno com câmera embutida.
Ele se espantou e perguntou: “Dov'è la tua macchina? Si tratta di un moblie.”
Eu ia explicar que não queria móbile nenhum mas, deixei prá lá. Resolvi sair dali mas ele gritou: “Sta fermo, io dipingere il tuo ritratto!”
Perái, estafermo não, xingar eu sei seu carcamano maledeto. E joguei-o com cavalete e tudo dentro do rio.
Depois desse incidente infeliz eu resolvi deixar a Itália e ir para a Espanha, com o portunhol vai ficar fácil – pensei. Ser vizinho de um argentino por tanto tempo deve servir para alguma coisa afinal. E também é só ter cuidado com certas palavras, lembrar que na rua não se faz “ligación”, que eles molestam rato, que fica tudo tranquilo.
Ledo engano, a pronúncia argentina é totalmente diferente da espanhola. E eu fui para justamente em Pamplona no meio da festa se San Firmino. Eu estava atravessando a rua e vi uma multidão correndo e gritando: “No te quedes aquí! Salir de la calle ahora!”
Eu a princípio não entendi direito... cair onde, que calha? (na argentina se fala cadje) Mas, quando eu vi um touro enfurecido correndo pra cima de mim, percebi que tinha que sair de lá o mais rápido possível.
Deixei a Espanha prá trás também, é um lugar muito perigoso. Resolvi deixar a terra de meus bisavós para lá e ir até Portugal. Lá pelo menos eles falam o meu idioma.
Quase né! Tirando que lá rabo não é cauda, bicha não é travesti, panelereito não é utencílio de cozinha, rapariga ou puta não é prostituta e se você chamar alguém por você ele quase te bate (lá deve-se usar o tu para perguntas formais ou a desconhecidos) não existe lugar melhor que o Brasil, então cansado, sujo, dolorido e faminto voltei!
Saí do aeroporto no nordeste, eu precisava de férias depois dessa aventura. Aí eu precisava mesmo era comer alguma coisa e vi ao longe uma barraca com um cartaz escrito assim: “Cachorro quente 1 Real.” Pensei: “Deus abençoe o Brasil.”
Fui até lá e me lembrei de uma história que uma amiga russa me contou, ela precisou ir até Moscou para resolver um problema com seu visto de trabalho no Brasil, resolvido isso ela embarcou de volta, lá ela enfrentou um inverno de 50 graus NEGATIVOS, chegou no Rio de Janeiro onde fazia 40 graus, ele estava tão passada por causa do calor que quando achou um sorveteiro pediu logo dois sorvetes, o sorveteiro ficou olhando para ela com cara de quem não tinha entendido nada, quando ela ia protestar reparou que tinha feito o pedido em russo e caiu na gargalhada, repetiu o pedido em português e foi embora.
Mas agora eu ia fazer meu pedido em bom português: - Me dá um cachorro quente! E pensei, agora vou comer um belo pão com salsicha, molho de tomate e batata frita. Não é que me deram um pão com carne moída?
Ainda bem que eu não estava na Coréia do Norte, lá a carne é mesmo de cachorro.

nota – No nordeste cachorro quente de salsicha é Hot-dog.

glossário
Che bella scena – que cena bonita
Guardate – olhe
Fiume – rio
Macchina – pode ser carro
Mobile – telefone celular
Sta fermo – parado, imóvel
Dipingere il tuo ritratto – pintarei o seu retrato
Calle – rua
Ligación – transar (gíria)
Molestar – incomodar
Rato – instante
Rabo – fim
Bicha – fila
Paneleiro – travesti
Rapariga – moça, menina
Puta - pura

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São Carlos, São Paulo, Brazil
Daidy Peterlevitz é aposentada, com qualificação para lecionar desde a pré-escola ao Colegial (Matemática e Física).Tem trabalhos publicados na Antologia “A Pena e a Lua”, da APEBS - Associação dos poetas e escritores da Baixada Santista.É autora dos livros As Duas Faces da Mesma Moeda e Quatro Bruxas no Elevador, lançado na Bienal do Livro, em S.Paulo. É autora do projeto DEMBLI, que facilita a circulação de livros, em escolas sem bibliotecárias. Trabalha em seu projeto no qual afirma que o bebê pode e deve aprender a ler. Também fez parte do antigo "SEROP" que funcionava no G.E Oswaldo Cruz, em São Paulo, sob a direção do sr.Jocelyn Pontes Gestal. Era orientadora de Ciências. O grupo, estudava a filosofia e a pedagogia de mestres, preparava apostilas, ia à inúmeras escolas, em S.Paulo e arredores, levando orientação diretamente aos professores ou,se distante como Sta. Izabel, aos diretores, que as passavam aos professores. Atualmente, escreve para seis jornais e, a todos agradece pelo espaço cedido.

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