25 de agosto de 2009

Sobre Educação


Outro dia, folheando a revista Veja num consultório médico, li uma reportagem bastante interessante que mostrava, com estatísticas, que as crianças de origem asiática, que vivem no Brasil, apresentam um desempenho escolar superior ao dos estudantes brasileiros.
O texto explicava que, nas classes onde elas são maioria, o silêncio e a atenção são uma constante.
Ouve-se claramente a voz do professor explicando a matéria.
Dizia também que essas crianças dedicam nove horas diárias ao estudo (cinco na escola e quatro em casa) enquanto que as nossas apenas cinco (as da escola)
Quando chegam em casa, essas crianças pegam seus cadernos, livros e estudam. Fazem os deveres de casa que o professor passa, lêem, treinam equações matemáticas etc.
Enquanto os brasileirinhos, em sua maioria, vagueiam pelas ruas empinando pipa ou jogando bola
Com isso, os asiáticos do nosso país estão conseguindo os melhores postos de trabalho (que são justamente aqueles que exigem maior qualificação e preparo) Em empresas com ótima remuneração,assistência médico-hospitalar e condições de ascensão profissional
E tudo isso me fez lembrar de uma menina brasileira que morava no Japão e veio visitar os parentes que ficaram aqui.
A tia dela era Orientadora na escola onde lecionávamos.
Certo dia estávamos em nossas classes, tentando dar aula e explicar a matéria para os alunos que, como sempre, só conversavam e brincavam de costas para a lousa... enquanto isso, a tia , nossa orientadora, vagava com a garota pelos corredores da escola, procurando uma classe mais calma, onde a sobrinha pudesse ficar resolvendo as questões de uma provinha de terceira série que ela (tia) havia preparado, para verificar o aproveitamento e a adaptação da menina na escola japonesa.
Mas a menina ficou aterrorizada com a gritaria dos nossos alunos e preferiu resolver a prova na Biblioteca, alegando que não conseguiria concentrar-se com aquela bagunça...
Perguntamos então o que acontecia, na escola dela, com os alunos que só queriam brincar, não estudavam e não respeitavam o professor em sala de aula
Ela disse que eles eram castigados
Perguntamos então qual era o tal castigo.
E sabem o que ela respondeu????
Que não sabia, porque na classe dela nunca
havia visto um aluno conversar durante as explicações ou desrespeitar seu professor....
Perceberam a diferença?
Nas escolas públicas de São Paulo, as salas de aula são superlotadas, com até 45 alunos por classe.
Para esse auditório, o professor tem que ensinar:
- o conteúdo das disciplinas (Matemática, Português História, Geografia, Ciências)
+ cidadania+ valores + educação sexual + higiene +saúde + ética + pluralidade cultural.
Deverá também funcionar como psicólogo, assistente social, orientador educacional e orientador pedagógico, desempenhando também todos os deveres familiares que a sociedade resolver transferir para a escola.
Nossos alunos dizem que as aulas são chatas e alegam que não gostam de ler que ler não é divertido.... que jogar bola e empinar pipa é melhor...
E todos logo gritam em coro:
- Culpa dos professores que não dão uma aula divertida e atraente para as crianças
A Secretaria da Educação do Estado de São Paulo surge em cena alegando que o aluno que temos é assim mesmo e que os professores precisam aprender a ensinar...
Rotula o magistério oficial como “professores nota zero”.
O que eles querem esconder é que temos em classe crianças (filhos de eleitores) que recebem o livro didático, cadernos e até mochilas mas “esquecem” em casa para ficar brincando durante a aula...
Crianças que não fazem lição de casa, não estudam e nem sequer prestam atenção as explicações do professor em classe.
Para agradar os pais eleitores, a Secretaria da Educação encaminha os professores para cursos de “capacitação”, alegando que eles não têm mais capacidade para ensinar.
Contratam firmas para dar esses cursos que segundo eles, tem o poder de transformar “profissionais despreparados” em professores criativos, prontos para dar uma aula eficaz, envolvente, estimulante e, ao mesmo tempo, divertida , capaz de fazer com que os alunos gostem mais da escola do que das partidas de futebol, mais de leitura do que dos jogos no computador....
É claro que esse discurso de responsabilizar o professor e varrer a sujeira pra baixo do tapete não vai levar a Educação a lugar nenhum.
Mas serve perfeitamente para justificar, junto a opinião pública, os baixos salários pagos aos profissionais do estado que mais arrecada impostos no país.
Imagine que você está doente, vai ao médico e ele prescreve determinado remédio
Você não toma o medicamento, não faz a sua parte e culpa o médico por não melhorar,..
Assim acontece nas escolas públicas paulistas: o professor ensina e os alunos não prestam atenção, não estudam, não fazem os deveres de casa , como nossos amiguinhos asiáticos.
Daí vem o governo e culpa o professor pelo mau desempenho dos “estudantes”.
Para justificar mais uma vez a falta de reajustes e os baixos salários em SP o governo implantou um sistema de avaliação.
Os professores recebem um bônus por produtividade, uma vez por ano:
se os alunos estudarem;
se os alunos não faltarem;
se os alunos não se evadirem;
se os alunos...
E, como o aluno não quer saber de nada, estamos sem reajustes desde que o PSDB começou a governar (uns11 anos) .
Daí vemos o governador na TV dizendo que pagou seis mil reais de bônus aos professores.
Só que se isso fosse averiguado direitinho, a verdade seria descoberta.
Para se ter uma idéia, tem escolas onde nenhum professor recebeu bonificação porque... houve evasão, porque o aproveitamento dos alunos não se alterou.
E assim por diante!
Sem contar que, nesse sistema de bonificação por produtividade, os aposentados, por não terem mais alunos, são castigados e estão sem reajuste há anos (desde que o governo de SP passou a avaliar professores pelo desempenho dos alunos...)
Ninguém quer sugerir aos eleitores a receitinha das crianças asiáticas:
- fazer a lição de casa.
- estudar,
- empenhar-se,
- dedicar-se.
Enfim, fazer sua parte!
A verdade é que o educador deixou de ser modelo para os jovens: ganhamos mal, nos vestimos mal e somos alvo constante da crítica social .
Hoje, modelo para os jovens, são os milionários jogadores de futebol, pagodeiros e outros mais que prefiro nem relacionar aqui...
Vamos combinar, não dá para falar em Educação de Qualidade enquanto o profissional da educação for sistematicamente desvalorizado , tratado pelo governo, pelas famílias e pela mídia em geral como um inimigo público, um vagabundo etc.
Nessas condições , que aluno vai querer ouvir o que uma pessoa assim tem a dizer?
Pedimos a todos que repassem esta mensagem para sua lista de contatos.
Não temos voz na mídia e precisamos da internet para que a população saiba o que acontece nas escolas de SP.

3 comentários:

Ivoninha disse...

Oi Daidy: Estou maravilhada com sua inteligência, conhecimento e sensibilidade! Realmente as crianças de origem asiática se destacam no corpo discente, pois no país de seus antepassados a educação cumpre relamente o seu mister, ou seja :desenvolver as reais potencialidades do alunato! Vc disse tudo que muitos precisam saber, pois pensam que a realidade do professor aposentado é aceitável... Depois de tanto formando gerações não recebem a contraprestação devida da sociedade... Ninguém respeita um professor, que é sinônimo de uma pessoa idealista, mas mal remunerada e portanto perdedora! Parabéns, Daidy! Bjs Ivone

Daidy Peterlevitz disse...

Minha querida Ivone...lhe agradeço, muito, mas neste país estranho...rico e pobre...ainda há muitas coisas a serem explicadas!
Conto com voê, tão seria e honesta, a ajudar-me nisso!!
Meu abraço, sempres, Daidy.

Daidy Peterlevitz disse...

Querida Ivone, devo lhe pedir algumas várias desculpas, pelos tantos erros de Potuguês, que tenho cometido!
A idéia, em ficando idosa...fica difícilem lembrar! A ética não!!
Meu abraço, sempre, Daidy.

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Quem sou eu

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São Carlos, São Paulo, Brazil
Daidy Peterlevitz é aposentada, com qualificação para lecionar desde a pré-escola ao Colegial (Matemática e Física).Tem trabalhos publicados na Antologia “A Pena e a Lua”, da APEBS - Associação dos poetas e escritores da Baixada Santista.É autora dos livros As Duas Faces da Mesma Moeda e Quatro Bruxas no Elevador, lançado na Bienal do Livro, em S.Paulo. É autora do projeto DEMBLI, que facilita a circulação de livros, em escolas sem bibliotecárias. Trabalha em seu projeto no qual afirma que o bebê pode e deve aprender a ler. Também fez parte do antigo "SEROP" que funcionava no G.E Oswaldo Cruz, em São Paulo, sob a direção do sr.Jocelyn Pontes Gestal. Era orientadora de Ciências. O grupo, estudava a filosofia e a pedagogia de mestres, preparava apostilas, ia à inúmeras escolas, em S.Paulo e arredores, levando orientação diretamente aos professores ou,se distante como Sta. Izabel, aos diretores, que as passavam aos professores. Atualmente, escreve para seis jornais e, a todos agradece pelo espaço cedido.

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